Doenças Intestinais

Intestino comprometido

São duas doenças inflamatórias e ambas deixam o intestino em risco: a doença de Crohn e a colite ulcerosa são crónicas mas, com tratamento, é possível atenuar sintomas e levar uma vida normal.

Doença inflamatória do intestino é a designação genérica de duas patologias com tantos traços em comum que, por vezes, dificultam o diagnóstico. Trata-se da doença de Crohn e da colite ulcerosa, ambas crónicas, de causas desconhecidas e com algumas complicações potenciais.
Sem cura, desenvolvem-se em episódios alternados de crise e remissão. Podem ser muito debilitantes, mas o tratamento permite atenuar os sintomas e funcionar normalmente. Tanto afectam homens como mulheres, ocorrendo quase sempre na idade adulta, sobretudo entre os 20 e os 40 anos.

São mais comuns nas zonas urbanas dos países industrializados, delas sofrendo cerca de 12 mil portugueses.

Doença de Crohn

É uma das faces da doença inflamatória do intestino, caracterizando-se por uma inflamação crónica que pode afectar qualquer parte do tubo digestivo, mas que compromete mais frequentemente o intestino delgado no seu segmento terminal, o íleo. Não sendo uma doença contínua, isso significa que coexistem no intestino zonas doentes com zonas sãs.
Nos segmentos inflamados, o que acontece é um aumento da espessura da parede intestinal e o consequente estreitamento do espaço interior, o que dificulta a passagem de alimentos. Esta estenose pode mesmo conduzir a obstrução intestinal e à formação de fístulas. Nos casos mais graves, pode ocorrer perfuração intestinal, além de que as lesões podem evoluir para um cancro no intestino.
Dado que qualquer segmento do tubo digestivo pode ser afectado, são variados os sintomas desta patologia. O mais comum é a diarreia, que acontece porque, devido à inflamação, as células segregam grandes quantidades de água e sal.
O intestino não consegue absorver este excesso de fluidos, pelo que as fezes se tornam mais moles e abundantes.
Devido ao espessamento das zonas inflamadas, o trânsito intestinal é mais difícil, podendo causar dor abdominal, ligeira a intensa, acompanhada ou não de náuseas e vómitos.
A presença de muco ou sangue nas fezes é outro sintoma, o que tanto pode ser causado pela pressão exercida ao longo do intestino pelos produtos da digestão como resultar de hemorragia intestinal devido à formação de úlceras.
Das paredes do intestino, a inflamação pode passar para outros órgãos próximos, como a bexiga, criando uma ligação anormal, fístula. Podem formar-se ainda abcessos, feridas cheias de pus e inchadas.
A perda de apetite e, consequentemente, de peso é outro sintoma da doença de Crohn, quer devido ao incómodo abdominal, quer porque a capacidade para digerir e absorver os alimentos pode ser afectada.
Fora do tracto intestinal, a doença pode declarar-se através de fadiga, febre, problemas da pele e inflamação dos olhos, entre outros. Nas crianças pode ocorrer atraso no crescimento ou no desenvolvimento sexual.
Não se sabe exactamente o que causa esta doença, já tendo sido afastadas as teorias iniciais que apontavam para a responsabilidade do stress e da dieta, embora estes dois factores possam agravar os sintomas. Actualmente, a investigação centra-se em duas vertentes: a influência do sistema imunitário e a hereditariedade, tendo sido identificada a mutação de um gene nas famílias que tendem a sofrer desta doença.
O que se sabe é que há factores de risco. Não o género, mas a idade, já que a doença afecta sobretudo adultos jovens. Viver numa área urbana e industrializada também parece potenciar o desenvolvimento da patologia, o mesmo acontecendo com o tabaco.
Dado que a doença de Crohn é crónica, é fundamental procurar ajuda médica perante sintomas como alterações nos hábitos intestinais, dor abdominal, sangue nas fezes, diarreia frequente e febre sem causa aparente por mais de dois dias.
O médico pedirá um conjunto de exames que permitirão chegar a um diagnóstico. Entre esses exames conta-se uma colonoscopia, que permite visualizar o interior do intestino e assim detectar eventuais zonas de inflamação.
Quanto ao tratamento, envolve medicamentos e, eventualmente, cirurgia para remoção dos troços do intestino afectados.
São várias as categorias terapêuticas utilizadas para aliviar os sintomas da doença, dos anti-inflamatórios não esteróides aos supressores do sistema imunitário, passando pelos antibióticos e outros mais específicos como os anti-diarreicos e os analgésicos. Suplementos nutricionais também podem ser recomendados, para repor nomeadamente os níveis de ferro, cálcio, vitamina D e vitamina B12.
Tratar quanto antes e manter o tratamento é fundamental para prevenir as complicações da doença de Crohn. A obstrução do intestino é uma delas: o espessamento das paredes internas torna-o mais estreito, podendo impedir a passagem dos produtos da digestão. A desnutrição também é um risco. Mas o mais grave é o de cancro do cólon, o qual aumenta em função da área afectada e do número de anos com a doença. Ainda assim, mais de 90 por cento das pessoas com doença inflamatória do intestino não desenvolvem cancro. Há, no entanto, que vigiar, pelo que quem tenha a doença há oito ou mais anos deve fazer exames médicos de rotina uma vez por ano.

Colite Ulcerosa

Esta é a outra face da doença inflamatória do intestino, partilhando com a doença de Crohn a maioria dos sintomas, diarreia, frequentemente com sangue, desejo urgente de evacuar, dor abdominal e, por vezes, dores nas articulações e lesões na pele.
O que a diferencia é a localização da inflamação: a camada interna (mucosa) que reveste o intestino grosso e, muito frequentemente, o recto. A mucosa fica inflamada, apresentando pequenas feridas à superfície (úlceras) que podem sangrar e produzir uma quantidade excessiva de muco, o lubrificante intestinal, que pode conter pus e sangue. Aliás, as hemorragias são frequentes.
Outra diferença é o facto de a inflamação ser contínua, sem espaços livres, embora de gravidade variável. Assim, pode oscilar entre uma infecção ligeira, centrada numa pequena zona do recto (proctite), até uma forma mais grave, que abarca todo o cólon (pancolite), existindo um claro risco de complicações. Nalguns casos, a parede do cólon é tão afectada que se distende ao ponto de os seus movimentos desaparecerem. Esta situação, cuja designação médica é megacólon tóxico, requer o internamento do doente, sendo muitas vezes necessário extirpar todo o cólon. Outro risco significativo é o de aparecer cancro na zona afectada, um risco acrescido quando a doença tem dez ou mais anos.
Com uma forma de diagnóstico semelhante à da doença de Crohn – análises, radiografias, endoscopia e biopsia, a colite ulcerose é uma patologia de prognóstico incerto, dado (ainda) não existir um fármaco que controle com eficiência as crises mais agudas. Esse é, no entanto, o objectivo dos tratamentos, bem como evitar as recidivas da doença. Corticóides, antibióticos e imunosupressores fazem parte do leque de substâncias farmacológicas disponíveis para controlar uma patologia que é mais frequente nos adultos entre os 20 e os 30 anos, mas que conhece um outro pico entre os 60 e os 80, tanto em indivíduos do sexo masculino como feminino.

Estas são duas doenças com sintomas pouco específicos, pois podem ser causados por outras patologias comuns. Além de que, em cerca de dez por cento dos casos, não é possível distinguir a doença de Crohn da colite ulcerosa. Mas o risco de uma complicação grave existe, pelo que é fundamental dar atenção aos sintomas, mesmo que pareçam ligeiros e passageiros.
O facto de se declararem em pessoas jovens, sem qualquer causa identificável, aumenta a importância do diagnóstico e do tratamento precoces. Até porque pouco se pode fazer para prevenir a doença inflamatória do intestino.

Dieta e stress

Não há provas de que a alimentação e o stress sejam determinantes para a doença inflamatória do intestino.

Convém:
Fazer exercício, pois ajuda a normalizar a função digestiva;
Tentar exercícios respiratórios para relaxar.

Apoio entre pares

Procurar apoio junto de outros doentes é uma forma positiva de lidar com a doença inflamatória do intestino. É essa a razão de ser da Associação Portuguesa de Doença Inflamatória do Intestino (APDI), constituída essencialmente por doentes e seus familiares.
Fundada em 1994, visa o aconselhamento e apoio a pessoas que sofrem de doença de Crohn e colite ulcerosa, a melhoria e alargamento dos cuidados médicos ambulatórios, a difusão de informação sobre a doença, a promoção da investigação sobre as causas e tratamento, e a cooperação com os profissionais de saúde, com a indústria farmacêutica, com serviços e entidades públicas.
Tendo a auto-ajuda como centro da sua acção, a APDI juntou-se recentemente à Plataforma Saúde em Diálogo, uma entidade de solidariedade e entreajuda nascida há dez anos por iniciativa da Associação Nacional das Farmácias.

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