Cancro de Pele

Sinais de cancro

São os sinais que denunciam o melanoma, o tipo de cancro da pele mais grave. É o preço que, muitas vezes, se paga pela exposição abusiva aos raios solares. A lembrar a cada verão que a aposta na prevenção é uma aposta na vida.

Dez mil! É este o número estimado de casos de cancro cutâneo que surgem todos os anos em Portugal. E deles entre 700 a 800 assumem a sua forma mais grave, a de melanoma. A aumentar todos os anos, ao ritmo a que se acumulam as consequências de um dos seus principais fatores de risco, a exposição excessiva e desprotegida ao sol.

A radiação ultravioleta é, efetivamente, culpada pelo melanoma, mas não só a que provém do sol: também as lâmpadas solares e as câmaras de bronzeamento têm o mesmo efeito nefasto sobre a pele. Independentemente da fonte, estes raios causam o envelhecimento prematuro e danos cutâneos. Há uma diferença, porém: enquanto o sol natural deve ser desfrutado com proteção, o sol artificial deve ser evitado.

E porquê o risco? É que a radiação atua sobre os melanócitos, as células que produzem melanina, o pigmento que confere à pele o seu tom natural. Quando é exposta aos raios, a pele escurece, ficando bronzeada, o que acontece porque os melanócitos reagem, produzindo mais melanina.
Ora, a exposição desregrada pode interferir sobre o ciclo natural destas células, fazendo com que haja alterações na sua estrutura, tornam-se assim malignas. E tanto podem ficar limitadas à pele como espalhar-se para outras partes do corpo, nomeadamente para os gânglios linfáticos vizinhos ou para órgãos como o fígado, os pulmões ou o cérebro.

Há um novo tumor nesses órgãos, mas continua a ser de origem cutânea, pelo que se fala em melanoma metastizado.

Não se conhecem exatamente as causas do melanoma, mas sabe-se que há fatores de risco. A começar pela radiação ultravioleta e pelas suas consequências sobre a pele (queimaduras solares repetidas, por exemplo). Também os sinais cutâneos aumentam a probabilidade: são pequenas proeminências de melanócitos e de tecido circundante, normalmente de cor rosada ou castanha, redondos ou ovais e mais pequenos do que a borracha de um lápis. Tanto podem estar presentes desde o nascimento como surgir ao longo da vida e cada pessoa pode ter entre 10 e 40.
O risco aumenta quando se concentram mais de 50 destes sinais. E ainda quando a eles se juntam os chamados nevos displásicos: são sinais atípicos, com um aspecto anómalo, que têm mais probabilidade de evoluir para melanoma do que os comuns.

A pele clara aumenta igualmente a vulnerabilidade da pessoa, na medida em que é uma pele com menos melanina, logo menos protegida de agentes como a radiação ultravioleta. É por isso que as pessoas de raça branca desenvolvem melanoma com mais frequência do que as de raça negra.

Antecedentes pessoais de cancro cutâneo também aumentam o risco: sabe-se que as pessoas que já foram tratadas a um melanoma podem vir a ter um segundo. A probabilidade também cresce se houver antecedentes familiares, sobretudo se houver dois ou mais parentes próximos que tenham tido melanoma.

A importância da deteção precoce

São os sinais, ou melhor, alterações nos sinais, que denunciam a possível existência de um tumor na pele. São alterações no tamanho, na forma, na cor ou na textura: e por mais ligeiras que sejam devem ficar sob suspeita e desencadear uma consulta médica. Muitas vezes, forma-se uma nova zona negra na pele, outras surge uma pequena crosta ou um sinal já existente causa comichão, estes podem ser sintomas de um melanoma na fase inicial.
Já numa fase mais avançada pode haver modificação na textura, com o sinal a tornar-se duro ou exibir protuberâncias. Do sinal pode ainda libertar-se pus ou sangue, não havendo dor.
É importante estar atento a estas mudanças, por mais insignificantes que pareçam, dado que, quando detetado e tratado precocemente, o melanoma pode ser curado. Mas se não for removido numa fase inicial, quando ainda é fino e não invadiu a pele em profundidade, há o risco de as células malignas se espalharem no interior, tornando o melanoma mais espesso e profundo, logo mais difícil de controlar.

Perante a suspeita, há que fazer uma biopsia para um diagnóstico definitivo. Trata-se da remoção parcial ou total do tecido proeminente para posterior análise laboratorial. Se o resultado for positivo, o passo seguinte é determinar a fase em que a doença se encontra, de modo a definir o tratamento mais adequado. O médico avalia a espessura do tumor, a sua extensão e grau de invasão da pele e dos gânglios linfáticos vizinhos ou de outros órgãos.

Dessa avaliação resulta o enquadramento do tumor num de cinco estágios de desenvolvimento. No menos grave, o estágio 0, as células estão confinadas à camada exterior da pele, enquanto no mais grave, o IV, as células já se disseminaram para outros órgãos, longe do tumor original. Há ainda a possibilidade de uma recidiva, ou seja, o regresso do tumor após tratamento, no local original ou noutra parte do corpo.

Opções de tratamento

É em função deste diagnóstico específico que o médico propõe um plano de tratamentos, tendo ainda em conta a idade do doente e o seu estado geral de saúde. As opções, isoladas ou combinadas, envolvem cirurgia, quimioterapia, radioterapia e imunoterapia.

A cirurgia consiste na remoção do tumor e de algum tecido saudável à sua volta, de modo a formar uma zona de segurança. Depois deste procedimento, pode ser necessário administrar outro tratamento de modo a destruir células malignas que possam ter permanecido no organismo. Pode ser esse o objetivo da quimioterapia, também usada como primeira opção: trata-se da utilização de químicos para matar as células, tanto podendo ser administrada por via oral (comprimidos) ou através de injeção intravenosa (na veia). Em ambas as situações, o fármaco circula por todo o corpo.

Já a radioterapia consiste na utilização de raios de elevada energia, que atuam de uma forma localizada, permitindo diminuir o tamanho do tumor. Quanto à imunoterapia, recorre à capacidade natural do organismo para combater a doença, ou seja, utiliza o sistema imunitário, sendo uma opção, por exemplo, para diminuir o risco de recidiva.

Como todos os tratamentos, também estes podem ter efeitos secundários. Os mais conhecidos estão relacionados com a quimioterapia e prendem-se com a queda de cabelo: ela acontece porque os fármacos circulam por todo o corpo, atacando também células saudáveis como os folículos capilares. Contudo, este é um efeito temporário, pois o cabelo volta a crescer. O aparelho digestivo também sofre com estes químicos, podendo ocorrer perda de apetite, náuseas e vómitos, diarreia e feridas na boca. Outras células afetadas são as do sangue, cujo número pode ser reduzido, abrindo caminho a infeções, hematomas ou hemorragias.

Cansaço e fraqueza são outras das possíveis consequências da quimioterapia, podendo ocorrer também após uma cirurgia. Já quem faz tratamento com radiações pode queixar-se de vermelhidão, secura e maior sensibilidade da pele e perder algum cabelo ou pelos na zona tratada. A imunoterapia causa também alguns incómodos, podendo haver erupção no local da injeção, febre, arrepios, dores de cabeça, cansaço e sintomas digestivos.

E depois da cura?

Os progressos no tratamento e na deteção precoce do melanoma têm permitido que muitas pessoas se curem. Contudo, isso não significa que devam descurar a vigilância, até porque há o risco de uma recidiva ou de um outro melanoma. É que basta uma célula cancerígena não ter sido detetada e destruída para o tumor reaparecer. Dito assim, parece alarmista, mas sublinha a importância de vigiar o estado de saúde da pele e de fazer exames regulares, de acordo com o calendário estabelecido pelo médico. Desta forma é possível atuar rapidamente à mínima suspeita.
Quer tenha ou não tido cancro cutâneo, é fundamental vigiar a pele: assim se detetam a tempo eventuais sinais suspeitos. Eis as recomendações da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo:

A melhor altura é depois do banho ou do duche;
Procure uma zona bem iluminada, use um espelho de corpo inteiro e um de mão;
Inspecione primeiro as palmas das mãos e os antebraços, sem esquecer os espaços entre os dedos;
Coloque-se diante do espelho e dobre os braços para si, de modo a poder ver a parte de trás dos antebraços e dos cotovelos;
Observe a parte anterior do corpo, bem como a face, o pescoço e os braços;
Vire o lado direito do corpo para o espelho e levante o braço; faça depois o mesmo com o lado esquerdo;
Coloque-se de costas e observe as nádegas e pernas;
Com a ajuda do espelho pequeno, examine a nuca e o couro cabeludo;
Sente-se numa cadeira e apoie uma perna sobre um banco: com o espelho pequeno inspecione a parte interna; faça o mesmo com a outra perna;
Cruze as pernas e verifique a planta dos pés, dedos, unhas e espaços interdigitais, bem como os genitais.

O que procurar?

Deve dar atenção a sinais novos, a alterações no tamanho, na cor ou textura de um sinal já existente e a feridas que não sarem.

É usada a regra ABCD:

Assimetria: quando a forma de uma metade não coincide com a outra;
Bordo: quando os contornos são irregulares e o sinal mal delimitado;
Cor: quando a cor não é uniforme;
Diâmetro: quando é superior a cinco milímetros;
Espessura: quando o espessamento é recente.

Muitos melanomas apresentam todas estas características, mas alguns podem evidenciar alterações apenas numa ou duas, pelo que é melhor jogar pelo seguro e consultar o médico à mínima suspeita.

O vestuário influencia?

A forma como homens e mulheres se vestem atualmente parece estar a influenciar as zonas do corpo em que o melanoma se manifesta preferencialmente. Quem o disse foi o presidente da Associação Portuguesa de Cancro Cutâneo a propósito do Dia Europeu do Melanoma 2009.

Assim, regista-se um aumento do número de casos no tronco e membros superiores das mulheres, consequência possível do uso frequente de vestidos e blusas com alças. Em contrapartida, está a diminuir o número de casos nas pernas femininas, talvez devido ao uso generalizado de calças entre as mulheres.

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